Rio+20: documento a aprovar pelos chefes de Estado e governo é uma desilusão
Começa amanhã, dia 20 de Junho, no Rio de Janeiro, e prolonga-se até 6ª feira, a mais importante e participada Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável - a Conferência Rio+20. O objetivo principal é definir o caminho a seguir nos próximos anos em áreas como a economia verde, isto é, como é possível gerar empregos em áreas que não tenham impactes significativos. São exemplos disso a reciclagem de materiais, a eficiência energética e as energias, a proteção dos oceanos, a gestão das grandes cidades, os objetivos de desenvolvimento sustentável e os meios de implementação (incluindo questões de financiamento).
As expetativas da Quercus são infelizmente limitadas:
- Por um lado a conferência é já em si uma oportunidade de balanço e de mobilização (vinte anos depois da ECO/92, que iniciou todo um conjunto de processos: três convenções nas áreas do clima, desertificação e biodiversidade), e também de estabelecer uma agenda para a sustentabilidade às escalas local e global (Agenda 21). No entanto, os resultados finais estão, em algumas áreas, muito aquém do desejável: o aquecimento global não está a ser contido, as áreas desertificadas estão a aumentar e não se tem conseguido parar a destruição de muitos ecossistemas.
- Por outro lado, o renovar do caminho e o surgimento de alguns dos pontos fortes como a criação de uma Agência das Nações Unidas para o Ambiente, a retirada de subsídios aos combustíveis fósseis, o estabelecimento de compromissos em diversas áreas são diversas matérias que não receberam consenso ou que são pouco ambiciosas.
Sabia-se que a tarefa era hercúlea, difícil e, em algumas áreas, corria-se mesmo o risco de se agravar as divergências sistematicamente acumuladas ao longo de anos entre países mais ricos (mais industrializados e desenvolvidos) e as economias emergentes e países em desenvolvimento (ou menos desenvolvidos). Há visões muito diferentes do caminho a seguir para um planeta que tem cada vez mais população e que está a usar recursos que não se conseguem regenerar à mesma taxa de consumo, traduzindo-se também em enormes desigualdades entre países.
Depois de três dias de reuniões preparatórias, no sábado dia 16 de junho, o Brasil assumiu a responsabilidade, como organizador da Rio+20, de conduzir negociações informais no sentido de chegar a um documento a ser aprovado pelos chefes de Estado e de governo. Desde aí até ao final da manhã de hoje, 19 de Junho, simplificou-se o documento, algumas áreas foram acordadas, outras foram eliminadas e aprovou-se o texto final. A proposta é pouco objetiva, pouco ambiciosa e fica muito aquém do desejável. Ainda há três dias para os governantes poderem eventualmente melhorar alguns aspetos, mas para já o caminho é o da desilusão.
Quercus presente nas manifestações de 20 de Junho; nas negociações, a seguir posições de Portugal, e na Assembleia dos Povos
Amanhã, dia 20 de junho, 4ª feira, realizam-se duas manifestações: uma primeira durante a manhã na favela Vila do Autódromo, junto ao local da conferência e do recinto com pavilhões de diversos países, e uma outra, a principal, que terá lugar pelas 15h, no centro do Rio de Janeiro. A Quercus estará presente em ambas as manifestações, reclamando os direitos de todos os cidadãos a um planeta com um melhor uso dos recursos, maior equidade e maior participação.
Seguiremos também as negociações como observadores e com alguma possibilidade de intervenção que é concedida às organizações não governamentais de ambiente, mas também no acompanhamento dos trabalhos da delegação portuguesa, onde dois dos três participantes da Quercus estão integrados.
Por último, hoje e ainda quinta e sexta-feira, a Quercus participará nas Plenárias e na Assembleia dos Povos na Cúpula dos Povos. Esta reunião paralela da sociedade civil procura reunir apelos e propostas de quem vive e sofre mais diretamente com os problemas de um crescimento económico desrespeitador dos direitos humanos, dos ecossistemas, de princípios éticos, ambientais e sociais, com uma visão mais pragmática e objetiva das necessidades de melhoria da qualidade de vida, contrastando com a falta de decisão e ação dos políticos presentes na Rio+20.
Rio de Janeiro, 19 de junho de 2012
A Direção Nacional da Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza
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[Actualizado] Texto final aprovado em plenário informal após maratona negocial
Foi aprovado num plenário informal que começou às 12h15, hora do Brasil [16h15 em Lisboa], o texto final resultante das negociações que aqui terminaram perto das 3h da madrugada. O texto, para poder ser consensual, está muito enfraquecido e pouco objetivo em várias matérias, longe de traçar um verdadeiro caminho para o desenvolvimento sustentável nas suas diversas componentes. No fundo, são mais ideias genéricas para os próximos anos e para as próximas décadas. As organizações não governamentais de ambiente estão desiludidas com o conteúdo. Muitas delegações, em particular a União europeia, também mostraram a sua insatisfação. Nos próximos três dias, na Conferência Rio+20, esta proposta deverá ser aprovada pelos chefes de Estado e Governo, que talvez ainda possam aprovar também uma outra pequena declaração que fortaleça alguns aspetos.
[NOVA VERSÃO] The Future We Want - versão final revista - 19 Junho, 12h30 (Brasil)Autoria e outros dados (tags, etc)
Hoje: Fundação das Nações Unidas promove evento 'Rio+Social'
A Fundação das Nações Unidas e um conjunto de parceiros promovem hoje no Rio de Janeiro o evento 'Rio+Social', "uma conversa global sobre como a tecnologia e as redes sociais e digitais podem influenciar as questões de sustentabilidade que serão discutidas na Rio+20". A iniciativa será transmitida em directo na internet e contará com a participação de jovens, activistas e especialistas como Kumi Naidoo, Pete Cashmore, Ted Turner, António Guterres, Muhammad Yunus, Gro Harlem Brundtland e Mary Robinson, entre outros. Para acompanhar aqui a partir das 13h, hora de Lisboa (9h no Rio de Janeiro).
A 'Rio+Social' será acompanhada em directo em Lisboa, na RIO+20 Live Connected Lisboa, uma iniciativa paralela da Fundação EDP e da Fundação das Nações Unidas que decorrerá hoje e amanhã no Museu da Electricidade. Saiba mais aqui.
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Brasil quer fechar documento nas próximas horas; União Europeia muito insatisfeita
O Brasil tinha prometido que hoje era o último dia de negociações para se terminar o texto que será colocado para aprovação pelos chefes de Estado e governo na Conferência Rio+20 que começará 4ª feira. Um dia de intervalo permitiria compilar os diversos temas que estiveram em discussão nos últimos dias – os mais controversos têm sido economia verde, objetivos de desenvolvimento sustentável, os meios de implementação (nomeadamente fundos) ou energia (subsidiação de combustíveis fósseis). Mas depois há também muitos outros aspetos determinantes que podem ter no texto uma linguagem forte e ambiciosa ou infelizmente uma ideia demasiado genérica, que pouco acrescenta em relação ao que é necessário fazer.
Por um lado o Brasil diz que tudo está a decorrer bem dentro do programado e os consensos estão a ser conseguidos, apesar destas linhas serem escritas cerca das 20h30, hora do Brasil [00h30 em Lisboa], e muitos assuntos, uns estruturais e outros mais superficiais, estão ainda por resolver. O dinheiro (ou a falta dele para ajudar os países em desenvolvimento), é como sempre e em grande parte o causador das divergências. Porém, para as organizações não governamentais de ambiente e também para blocos como a União Europeia, é o facto da fasquia que se está a colocar para a Rio+20 estar cada vez mais baixa para se atingir um documento que permita atingir o consenso e anunciar o sucesso o que mais entristece.
A noite será longa e só amanhã haverá novidades sobre os resultados desta mega-conferência que deveria perspetivar mega-mudanças num planeta ameaçado.